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  • Foto do escritorJéssica Iancoski

10 Lendas do Folclore Brasileiro Recontadas

O Folclore brasileiro tem origem cultural marcada pelos povos antigos de diversas tradições e regiões.


Diz respeito a cultura popular do Brasil.


E é a junção de histórias, lendas, danças, criaturas fantásticas que habitam o imaginário das pessoas e é passada de geração em geração.


Todas essas expressões culturais populares são muito ricas e conversam diretamente com a identidade nacional brasileira.


Visto que representam uma identidade social através de criações coletivas.


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lendas do folclore brasileiro
10 Lendas do Folclore Brasileiro Recontadas

O que é uma Lenda?


As lendas brasileiras são narrativas originárias na mitologia indígena em conjunto com os mitos trazidos pelos Europeus.


Normalmente é transmitida pela tradição oral e tem como base fatos irreais que são produto da imaginação humana.


Partiu conferir 10 Lendas do folclore brasileiro que foram recontadas pela escritora Jéssica Iancoski?


10 Lendas do Folclore Brasileiro

  1. A Mula Sem Cabeça

  2. O Lobisomem

  3. O Saci Pererê

  4. O Curupira

  5. Bumba Meu Boi

  6. A Vitória-Régia

  7. As Lágrimas de Potira

  8. Como Nasceu a Primeira Mandioquinha

  9. História do Céu

  10. O Guaraná


1. Lenda da Mula Sem Cabeça


Em uma cidade, bem no interior do Brasil, a qual só tinha uma única igrejinha e ficava bem ao lado de uma floresta, a prefeita da cidade convoca todas as mulheres para uma reunião de emergência:


- Venho, por meio deste pronunciamento, pedir a todas as mulheres desta cidade que compareçam ao meu gabinete, para discutirmos uma situação impressionante: na última sexta-feira, dia 13 de dezembro de 2019 e lua cheia, uma mula sem cabeça foi vista andando pela nossa cidade e relinchando desesperadamente, gemidos tão suplicantes que não só gelaram, mas congelaram as espinhas de muitas mulheres. Como muitas de vocês sabem, a mula em cabeça é uma criatura, que é metade asno e metade égua. Mas não termina aí, tem uma particularidade fundamental, este animal tem chamas de fogo no lugar da cabeça. Peço encarecidamente que não fiquem assustadas, pois apesar deste animal parecer aterrorizante, ele não é! Dizem que é uma mulher que teve um relacionamento com o padre e, como castigo, foi transformada em uma mula sem cabeça. Como prefeita dessa cidade, venho informar que a minha gestão é em favor de nós mulheres e, portanto, uma mulher não deverá ser a única responsabilizada por uma relação de amor que aconteceu em conjunto. Embora o padre já tenha sido afastado de seus afazeres da igreja, a sua pena não foi tão severa quanto a de sua amante, pois ele não foi transformado em um mulo sem cabeça. Logo, nós mulheres precisamos nos unir para salvar a nossa injustiçada semelhante. A reunião será amanhã, segunda-feira, dia 16 de dezembro de 2019.


O dia da reunião chegou e algumas mulheres, mas nem todas, apareceram.


- Eu li aqui no Google que é possível acabar com esse encantamento se uma de nós arrancar o cabresto que ela possui - uma disse.


- Mas o cabresto fica na cabeça e ela tem fogo no lugar. Isto quer dizer que será uma tarefa perigosa - uma outra completou.


- Veja só! Isto é muito simbólico - disse a prefeita - o cabresto serve para dominar e controlar um animal, quase como o que a sociedade faz com nós mulheres. Eu mesma arrancarei o cabresto desta mulher, como prefeita desta cidade, coloco a mão no fogo por todas nós mulheres.


Então, as mulheres aguardam espertas até a quinta-feira, quando era a data mais provável que a mula sem cabeça retornasse. E não só tiraram o cabresto dela, mas também salvaram a si próprias, libertando-se de seus próprios cabrestos.



2. Lenda do Lobisomem

Em uma cidade rural do Rio Grande do Sul, dois homens e um menino esperam a lua cheia para sairem caçar um Lobisomem.


É a noite mais escura do ano, mas esses homens estão prestes a enxergar uma parte, embora bem pequenininha, da verdade.


- O sol está se pondo! Isto quer dizer que a lua cheia logo aparecerá - o mais experiente dos homens disse.


- Vocês já sabem, mas não custa nada eu relembrar: um lobisomem é uma criatura que é metade homem e metade lobo. Ele não se parece nem com um e nem com outro, mas com os dois ao mesmo tempo! Então, alguém ver algo parecido esta noite, é para atirar! - disse o outro.


- Não sei porque vocês estão fazendo isto! Um Lobisomem se parece com o que você disse, mas não é o que você falou. Um Lobisomem é um filho azarado que paga pelos pecados dos pais. Não me parece justo... matá-lo! - disse a criança.


- Mas um lobisomem é uma criatura muito perigosa! Que se transforma para matar e se alimentar principalmente de criancinhas como você…


- Como a mim, como?


- Intrometidas! Não vê que somos adultos e vamos caçar esta criatura para proteger os homens dessa cidade?


- Isto é uma bobagem! - disse a criança - um Lobisomem é só um Lobisomem porque algum pai traiu a esposa, ou porque os pais não batizaram uma criança ou porque uma família teve muitos filhos. E nada disso é culpa da criança. E nada disso é culpa do filho! Mas sim dos pais, então por que eles não são responsabilizados?


- Acho que a criança tem razão, companheiro. Nunca tinha parado para pensar isto, além do mais, acabei de perceber que essas coisas se parecem muito com o que o padre nos diz aos domingos. Essa lenda do lobisomem é bem antiga mesmo! Será que foi mais um boato disseminado pelo povo como estratégia de controle?


- Puts, camarada! É verdade. Não é que a criança tem razão… Acho que dar motivos para os homens se sentirem culpados é o que a sociedade faz.


- Não que eu estivesse com medo, porque nem isso um homem pode sentir… E eu não sinto! Mas acho melhor não sairmos hoje. Esta coisa do lobisomem está muito suspeita, o melhor é conversamos outro dia com o padre na igreja e ver o que ele tem a nos dizer.


- Eu sei o que ele dirá! Que vocês estão enganados - disse o menino.


Não demorou muito para os homens irem dormir, naquela noite. Eles acabaram não indo caçar o lobisomem, realmente consideraram o que a criança disse: que não era culpa do filho. Quanto a conversa com o padre… bem esta é outra história! Quem sabe um dia eu não te conto? Ou você não descobre sozinho =P



3. Lenda do Saci Pererê

- Ô, Pai! Vem aqui, vamos brincar de adivinhar? Eu vou descrever um personagem e você tem que adivinhar qual é!


- Vamos sim! Eu adoro quando a gente brinca disso. Me dá a primeira dica!


- É um personagem de uma lenda!


- O Lobisomem?


- Errou! É uma criança… Tem cabelos loiros e, às vezes, olhos azuis…


- É o Curupira!


- Errou…


- Então essa eu não vou saber… A outra única criança que é personagem de uma lenda que eu conheço é o Saci Pererê, mas ele é negro…


- Mas era o Saci, pai!


- Impossível, porque o Saci não pode ser branco… Ele é negro.


- Você está enganada pai, olha aqui no Wikipédia comigo. Diz que A Lenda do Saci Pererê surgiu por causa dos índios guaranis e que ele era assim como eu descrevi. branco de olhos azuis.


- Mas olha, esse que você descreveu não é o Saci, é o “Yasy Yateré”.


- A sonoridade é bem parecida! E a lenda original é essa, a do Yasy Yateré! Depois que surgiu o Saci Pererê, como um menino negro. E só no Brasil que foi assim! No Paraguai e na Argentina ele é branco, por exemplo!


- Mas lá é diferente. Aqui no Brasil a nossa lenda é a do Saci Pererê. Um menino negro muito travesso, endiabrado, que usa um gorro vermelho e só tem uma única perna. O Yasy Yateré é um menino branco, loiro e de olhos azuis, com duas pernas e uma varinha mágica… O Saci Pererê não tem nada disso não, menino!


- Mas pai, as duas lendas têm a mesma origem. E aqui no Brasil, olha, está escrito bem aqui nesta linha da Wikipédia, “Quando algo dá errado, uma comida queima, algo desaparece, ou os cavalos ficam assustados, foi o Saci Pererê que aprontou” e a lenda, está escrito, ó, apareceu entre o final do século dezoito e o começo do dezenove… Sabe o que estava acontecendo no Brasil nesta época? A Lei Áurea! A Libertação dos escravos… Que eram negros, pai! Não é curioso o Brasil aparecer com uma lenda, com uma figura negra fazendo coisas erradas e maldades? Nunca mesmo que falariam que ele poderia ser um branco, pai…


- Nossa filho… Nunca tinha parado para pensar nisto… E olha essa outra parte aqui “Originalmente o Saci era um guardião da floresta, mas conforme ela foi se espalhando pelo Brasil, acabou incorporando outros elementos oriundos de outras culturas”. Isto quer dizer que esta lenda de origem indígena, que tratava das preocupações dos índios guarani, como a de proteger a floresta, foi distorcida e transformada em uma lenda que reflete as preocupações dos brancos, quando os negros foram libertados. Acho que foram estes os outros elementos que foram atribuídos de outras culturas.


- Mas puxa, pai… Não tá certo isso!


- É filho, não tá certo mesmo! O que a gente pode fazer?


- Não sei pai… E se a gente contar para todo mundo isso e pedir para eles reverem? Vamos falar assim: o Saci não é um garoto endiabrado, mas é um menino que gosta de pregar muitas peças. E… Ele não é só negro! A cor da pele dele depende da região. O que você acha?


- É, eu acho que essa versão é melhor mesmo. Vamos tentar mudar isso dai então!



4. Lenda do Curupira

Em uma comunidade Yanomami, na floresta amazônica, uma que representa um dos maiores e mais conhecidos povos indígenas da América do sul. O cacique reune alguns dos seus para pedir ajuda:


- Eu preciso da ajuda de alguns de vocês - disse o cacique Yanomami para a sua comunidade - é sabido que os homens brancos têm entrado cada vez mais a fundo na floresta para retirar os bens da natureza e isto tem afetado, de um modo muito negativo, nós indígenas… Mas também, porque a floresta só pode morrer se os homens brancos a destruírem e alguns riachos e algumas vegetações tão especiais e importantes já estão sumindo. Isto quer dizer que precisamos fazer algo, porque a nossa casa é aqui, nosso lar é na floresta. Antes mesmo deles chegarem aqui, nós já morávamos aqui!


- E o que nós vamos fazer, cacique? - perguntou um dos índios


- Nós temos que entrar na floresta e encontrar o Curupira!


- Mas, cacique, como vamos saber que o Curupira não vai nos matar?


- Nós vamos levar muito fumo e cachaça, ele ama essas coisas. Será nossa oferta de paz, e então nós pedimos para conversar com ele. Ele tem que aceitar...


Então, a comunidade, como um todo, se organizou e elegeu quem seriam os Yanomamis que procuraram o Curupira para conversar.


No dia seguinte, carregando fumo e cachaça, entraram na floresta procurando por ele.


- Lembrem-se, o Curupira é um homem de estatura baixa, com cabelos tão vermelhos quanto o fogo e os pés virados ao contrário, com o calcanhar para frente e os dedos para trás. Ele é o protetor mais antigo e poderoso da floresta e dos animais que vivem nela. Precisamos andar muito na floresta, ir bem fundo, porque ele habita mais para longe, bem no meio da mata - disse o cacique.


Os Yanomamis foram andando e continuaram andando, já tinham se passado vários dias, pelo menos uns sete, quando começaram a ouvir um assobio!


- É o Curupira! É o Curupira! Todos falam que é ele assobia dentro da mata - disse um Yanomami.


- Curupira, nos desculpe e por favor, não nos mate. Você, em breve, terá um problema muito maior do que nós, os homens brancos. Estamos vindo em paz, precisamos conversar com você para protegermos a floresta juntos. Como forma de selar a nossa amizade, por favor, aceite o fumo e a cachaça que trouxemos para você.


- Eu aceito o fumo e a cachaça, mas não sei se tenho motivos suficientes para não matar vocês. Vocês estão muito longe de casa...Então me digam com mais clareza desta vez quem são estes homens brancos que vocês dizem ser perigosos...


- Os homens brancos são aqueles que vem destruindo a floresta, eles ainda não chegaram nesta parte mais para dentro da mata, mas eles ´já estão há muitas décadas destruindo e derrubando árvores, matando animais e estragando o solo e a água sagrados. É só uma questão de tempo até eles chegarem tão fundo, aqui, aonde você está.


- O quê? Eles estão destruindo a natureza sagrada? Derrubando as minhas árvores? E matando os meus animais? Eles precisam parar com isto já! Eu odeio quem trata mal a floresta.


- Sabíamos que você ia entender, agora só precisamos pensar no que fazer juntos!


Então, os Yanomamis e o Curupira passaram muito tempo conversando, analisando tudo o que poderiam fazer para proteger a natureza sagrada.


Até hoje não se sabe ao certo o que eles combinaram, mas é sabido que algo muito grave acontecerá, porque já tem acontecido, com os homens brancos que se atrevem a entrar e desrespeitar a floresta. Até dizem por aí, que o Curupira voltou a desaparecer com caçadores, fazendo-os esquecer o caminho de volta para casa...



5. Lenda do Bumba Meu Boi

Bumba era um boi, muito especial em um fazenda. Ele era fofo, carinhoso e companheiro tanto quanto um lindo cachorrinho - eu sei que isso pode parecer um pouco estranho, um boi assim, desse jeito… Mas acredite em mim, ele realmente era um animal tão querido quanto os animais domésticos.


Quando Bunda não estava comendo capim, ele gostava de passar o tempo brincando com as crianças. Ele lambia os rostos delas, deixando-os todos melecados e, às vezes, até deixava os pequenos subirem nele para um passeio.


Bumba realmente amava as crianças e as crianças amavam o Bumba.


Mas um dia… Nossa! Aconteceu uma tragédia, uma mulher grávida sentiu muito desejo de comer língua de boi e o seu marido, querendo evitar que sua esposa passasse vontade, e também que o filho deles nascesse com cara de língua de boi, entrou na fazenda, no meio da noite, e arrancou a língua do Bumba para cozinhar e dar para a esposa.


Bumba passou a noite inteira em agonia com muita dor.


De manhã, quando as crianças levantaram, não viram o Bumba e começaram a procurar por ele. Até que… Encontraram. Mas ele muito fraco e quase morto.


Todas as crianças começaram a chorar muito, porque o Bumba era um amigo especial… A dor das crianças foi tão grande quanto a dor de Bumba e, observando isto, um curandeiro se aproximou e disse para as crianças:


- Fiquem calmas, eu vou cuidar dele!


- Não está vendo? Alguém maltratou o Bumba, só porque queriam comer uma parte dele, mas o Bumda é nosso amigo! Ele é o nosso companheiro. Agora só um milagre pode salvar ele. As pessoas deviam ter mais compaixão, não só pelo Bumba, mas por todos os outros bois também! - disse uma criança muito triste.


Então, o curandeiro vendo tamanha dor das crianças, não poupou esforços e cuidou do Bumba por vários e vários e dias, até que em um deles, o Bumba se curou.


O Curandeiro, então, mandou chamar as crianças:


- Ele está bem agora! Mas realmente foi um milagre.


- Foi o milagre do amor e uma mensagem para dizer que os bois, assim como Bumba, merecem mais respeito e dignidade. Precisamos fazer uma festa para celebrar isto e mostrar para as pessoas, como a vida, para todos os animais, é um milagre.


E a festa foi organizada. Muitas pessoas compareceram para celebrar a importância dos animais, não só de Bumba!


E o Bumba, mesmo não podendo mais lamber as crianças e deixá-las com o rosto todo melecado de baba de boi, continuou sendo o companheirinho delas.


E desde então a festa do Bumba meu Boi vem sendo celebrada, todos os anos, para que as pessoas nunca se esqueçam de quanto os bois também devem ser amados.



6. Lenda da Vitória-Régia

Naiá era uma jovem moça indígena. Ela era mais sonhadora do que as outras moças e não conseguia entender ou aceitar a forma que a sua comunidade se organizava. Ela não queria se casar ou ter filhos. Ela queria ser livre como o céu.


Por isso, toda noite, Naiá sentava-se à beira do rio para conversar com Jaci - a Deusa da lua e protetora dos amantes.


- Veja bem, Jaci, entendo que você é a protetora dos amantes, mas eu não quero me casar e eu realmente não sei porque todos dizem que eu preciso. Eu preciso ser feliz, essa é a única coisa que eu realmente preciso. E eu não preciso de um homem para ser feliz...Eu queria ser uma mulher independente. Será que você não poderia me transformar em uma estrela? Assim eu conseguiria ser livre. Tão livre quanto o céu que é o que eu quero, Jaci...


- Mas, Naiá, a sua vida é na terra… Eu entendo que você não quer se casar e quer ser livre, mas não eu posso te transformar em uma estrela.


- Mas, Jaci…


As duas conversaram durante dias, mas Naiá não conseguia desistir da ideia de fazer parte do céu. Ela só se apaixonava cada vez mais por este pensamento e por sua liberdade.


Até que um dia, o luar, as estrelas, tudo estava tão bonito e refletido nas águas noturnas do rio... Que Naiá pensou em algo.


- Tanta beleza assim refletida, só pode ser magia. Se eu entrar nesta água e conseguir abraçar o céu com tanta força e paixão, não tem como Jaci não me transformar em uma parte dele.


PLAFT.


E foi o que Naiá fez, pulou na água com tamanha convicção em seus pensamentos, tentando agarrar os seus sonhos…. Mas na hora de pular, esqueceu de uma única coisa, a mais importante de todas: que ela não sabia nadar.


Naiá foi afundando e afundando… Até que Jaci teve que intervir:


- Naiá, eu te disse que não posso te transformar em uma estrela, porque você é parte da vida na terra. Mas posso te transformar em uma coisa nova, tão livre quanto você deseja, porque eu entendo que você está muito além do seu tempo. Por isso, vou te transformar em uma planta, que boiará livre nas águas, tal como as estrelas boiam no céu, livres. Era isto o que você queria, certo?


VLUP.


Naiá parou de afundar e emergiu para fora das águas, transformada em uma linda e livre vitória-régia.


E foi assim que Jaci, a Deusa da Lua, transformou Naiá, uma mulher sonhadora, com enorme força interior e muito além do seu tempo e do seu povo, em um símbolo de persistência e força feminina para que pudesse despertar o desejo de liberdade em outras mulheres.



7. As Lágrimas de Potira

Tempos antes dos brancos invadirem os sertões de Goiás, com tanta violência, em busca de pedras preciosas, existam naquelas terras povos indígenas, vivendo segundo suas próprias crenças e hábitos.


Tinha até dois jovens que se amavam muito: Potira e Itagibá.


O Tempo corria com tranquilidade, sem que nada atrapalhasse a paz do casal apaixonado. Embora, seja verdade, que às vezes Itagibá ficava um tempo longe, seja resolvendo alguns assuntos entre as comunidades diferentes ou caçando. E esses tempos eram os tempos de saudade.


Contudo, toda essa saudade sentida, só aproximava ainda mais o casal, quando Itagibá retornava. E o amor deles ficava cada vez mais forte e devoto, em cada reencontro.


Mas chegou o dia que os homens brancos, com toda a sua cobiça, apareceram no território indígena. Os homens brancos eram tão egoístas que infelizmente não houve outra alternativa, se não uma guerra.


E o casal se separou para sempre, porque Itagibá foi mandado para a Guerra.


Mas ao contrário do que possa parecer, eles não se separaram porque não havia mais amor. Se separaram porque Itagibá morreu em combate.


Quando ficou sabendo sobre a morte de Itagibá, Potira estava na beira de um Rio, sentada há dias esperando seu amado retornar.


E Potira ficou tão triste, mas tão triste com a notícia que começou a chorar.


E quando as lágrimas caiam nas águas do rio, elas não se misturavam, mas precipitavam e caiam, repousando ao fundo.


Todas as Lágrimas de Potira se transformaram em diamantes, porque suas lágrimas eram lágrimas de amor. E não era um amor como qualquer outro. Era um amor especial, um amor tão puro, mas tão puro, que apenas ele poderia se transformar em algo tão valioso. Era um amor verdadeiro.


E foi assim que o rio se encheu de diamantes e outras pedras tão preciosas, pela pureza de um amor que conseguiu ser mais límpido do que as águas mais claras de todo o rio.


E, agora, sempre que novas pedras preciosas aparecem nos rios algumas pessoas se lembram do amor puro de Potira, enquanto outras são despertadas pela cobiça, herdada da violência da disputa dos homens brancos pela riqueza.


E é por isso que um diamante pode ser duas coisas: apenas uma pedra preciosa, que vale muito, como muitos a enxergam; ou uma lágrima, que simboliza o amor mais puro de todos, que só poderia ter sido sentido por uma mulher, indígena, que soube compreender o que realmente é valioso nessa vida.



8. Como Nasceu a Primeira Mandioquinha

Há muito e muito tempo atrás, em uma comunidade, dois indígenas se casaram: Atiolô e Zatiamarê.


Um tempo depois do casamento, Atiolô ficou grávida de uma menina e Zatiamarê ficou bravo porque ele queria um menino.


- Quero um Menino, Atiôlo. E quero que ele cresça forte como o pai, que casse como o pai e que se pinte com urucum para ficar tão bonito quanto o pai.


Quando a menina nasceu, Zatiamarê não só não gostou, como também não reconheceu a menina como sua filha.


- Essa menina para mim é vento, Atiolô. Eu não pedi ela, eu pedi um menino. E é por isto que eu não vou dar um nome para ela, não vou passar tempo com ela e não vou sequer conversar com ela.


- Mas, Zatiamarê, mesmo que você não queria, ela continua sendo a sua filha. Você não pode simplesmente ignorar que ela existe. Você é o pai dela e ela precisa de você.


- Dane-se. Procure o Cacique se não gostar, ele vai me dar razão porque sou homem como ele.


A menina ia crescendo, sem nome e sem o amor do pai. E Atiôlo vendo que a situação não ia mudar, por conta própria, resolveu chamar a menina de Mani.


Zatiamarê continuava sem se importar ou conversar com a menina. E quando Mani perguntava algo para ele… NOSSA! Ele só a respondia um um mísero assobio.


- Pai, por que o céu existe?


- FIOFIOFIO


- Pai, por que a noite apareceu?


- FIOFIOFIO.


- Pai, você gosta de mim?


- FIOFIOFIO


Não importava o que Mani perguntava ou o quanto ela tentava. Zatiamarê sempre respondia “FIOFIOFIO”. E mesmo com o passar do tempo, a relação de Zatiamarê com Mani não melhorava. Nada mudava, continuava tudo igual e triste.


Até que Atiolô ficou grávida novamente.


- Se essa criança não for um homem como o Pai, eu juro, que nem por assobio vou conversar com ela. Posso até colocar em cima de uma árvore para virar comida de passarinho, Atiolô, eu juro.


Mas para a sorte de todos, nasceu Tarumã, um lindo menininho.


E ao contrário de Mani, Tarumã era muito amado pelo pai. Zatiamarê conversava conversas bem cumpridas com ele, carregava-o nas costas para lá e pra cá e até lhe contava histórias.


E Mani ficava vendo tudo aquilo, sem entender, até que não aguentou mais e morreu de tristeza.


Quando Mani foi enterrada, Atiolô chorou muito e por vários dias consecutivos. Alias, Atiôlo chorou tanto, mas tanto que regou o solo tão profundamente que do corpo de Mani nasceu a Mandioca.



9. História do Céu

Teve um dia que de repente o céu - azul - começou a se erguer. Ele ainda não existia como é hoje, uma arco azul de uma ponta a outra, ele era apenas todo branco.


E quando o azul do céu começou a se erguer, foi aos poucos. No começo era só um pequeno pedaço azul, levantando-se como uma onda.


Mas o povo antigo não queria que o céu fosse azul e toda vez que o céu se erguia um pouquinho, alguém ia lá e o derrubava com um machado, abrindo um buraco.


Mas o céu não desistia de crescer e continuava tentando.


Crescia um pouquinho do azul.


PLOFT.


Aparecia alguém e o derrubava com o machado e outro buraco branco surgia.


Crescia outro pouquinho do azul.


FLAPT.


Vinha outro machado e cortava. Outro buraco.


O povo antigo ia cortando, mas o céu continuava sempre se fechando.


O céu crescia mais rápido do que o povo antigo conseguia derrubar.


Até que eles desistam de tentar derrubar as partes azuis que cresciam.


- Ah, deixa pra lá. Não estamos conseguindo derrubar. É melhor deixar assim.


E foi assim que o céu nasceu, com o povo antigo tentando derrubar o céu. E é por isso que ele é todo esburacado.



10. Lenda do Guaraná

Um casal de indígenas queria muito ter um filho, mas não conseguia..


O casal tanto pediu para Tupã - o mensageiro do Deus mais poderoso dos tupi-guaranis - que lhes foi dado, um menino, cheio de energia e olhos deslumbrantes.


Este menino estava crescendo e a cada dia se tornava mais motivo de orgulho para a sua comunidade, pois ele gostava de sair para a mata e colher frutas, e sempre trazia muito alimento para todos.


Jurupari, aquele que deu origem a todos os demônios, sentiu muita inveja do garoto e resolveu dar uma lição nele.


Para isso, Jurupari se transformou em uma cobra e, um dia, quando o menino, cheio de energia, entrou na mata para colher as frutas, o picou.


Tupã até tentou avisar os pais do menino, com um trovão, que o garoto corria perigo. Mas não adiantou. Quando o casal entrou na mata, o menino já estava morto.


Então Tupã mandou os pais enterrarem os olhos da criança, mas antes que eles pudessem achar isto estranho, o mensageiro explicou que os olhos do menino iam se transformar em uma planta e que esta planta, ao ser ingerida, emprestaria a energia do garoto para que outras pessoas também pudessem trazer alimento para a comunidade - tal como ele fazia.


Os pais ouviram Tupã e enterraram os olhos do garoto. Algum tempo depois, nasceu uma planta, cujo os frutos se pareciam com os lindos olhos do menino e foi assim que o guaraná começou a ser plantado, para cultivar e compartilhar as características daquele que era motivo de tanto orgulho para o seu povo.



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